terça-feira, 18 de junho de 2013

Resenha do texto: Orientador Educacional ou Pedagogo – Da importância do fazer pedagógico para a democratização do ensino - Autora: Selma Garrido Pimenta


 
A autora inicia o texto retratando o alto índice de evasão que perdura nas escolas públicas e lembra que somente os fatores externos não são suficientemente convincentes para justificar o crescimento destes números. Neste aspecto, destaca-se o questionamento da autora: “é possível ensinar aos alunos que se evadem, e que, não por acaso, são advindos das camadas sociais mais pobres?” Através desta indagação, que diz respeito a fatores e práticas internas da escola, que precisam e devem ser mudados, surge o desafio de ensinar superando estas barreiras.

Vale acrescer e destacar os seguintes aspectos de modelo ideal da educação com o entendimento de José Carlos Libâneo: “Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática, e o professor profissional não é seu único praticante”. (LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010. p. 26.)

Nota-se que o desafio a ser enfrentado pela escola é ainda maior. E para que este objetivo seja atingido é abordada, por Pimenta, a atribuição do pedagogo, destacando o período em que o fazer pedagógico fora subdividido em três funções, quais sejam: a administração escolar, a supervisão pedagógica e a orientação educacional. Na tentativa de solução para tantas problemáticas, a autora analisa a prática do pedagogo, então denominado como orientador educacional.

Na luta pela emancipação das camadas menos favorecidas e pela diminuição no índice de evasão escolar, destaca-se o papel relevante da escola como transmissora do acesso ao saber. Pode-se perceber nas palavras de Dermeval Saviani duas concepções de teorias educacionais: “Na primeira, temos aquelas teorias que entendem ser a educação um instrumento de equalização social, portanto, de superação da marginalidade. No segundo, estão as teorias que entendem ser a educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de marginalização”. (SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 41 ed. Campinas: Autores Associados, 2009. p. 3.)

Neste aspecto entra em questão a superação de condições de dominação trazidas pela autora com brilhantismo, nas quais o confronto entre as partes aluno/professor, criará novos saberes e novas interpretações de mundo.

A escola tem importante papel na socialização de seus saberes, através desta afirmação se desdobrará o texto em uma visão progressista da educação.

Para que os papeis de orientador e pedagogo sejam apresentados são enumeradas as funções de cada um. Primeiramente o papel do pedagogo: quanto à escola pública o pedagogo seria aquela pessoa disposta a enfrentar os problemas da democratização; busca de melhoria e oportunidades de acesso. Quanto à especificidade da escola tratar das articulações entre o que se aprende com o que lhe quer ensinar, tendo o domínio também de instrumentos e técnicas para que este processo aconteça. Quanto à prática docente encaixa-se a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a importância do papel do professor no processo cultural; busca de resolução de contradições e entraves que barrem as propostas de serem efetivadas; articulação entre os diferentes modos de ensinar. Quanto aos especialistas na escola e a prática docente tem-se o objetivo de manter a especificidade da escola, evitando a resolução de conflitos/problemas através da fragmentação do trabalho; prática da escola tida como coletiva, implementação da interdisciplinaridade nas relações também; pedagogo na função não só administrativa, como também relacionado ao ato de ensinar, manejando instrumentos de articulação para que o processo se efetive.

Quanto às funções do orientador educacional verifica-se a responsabilidade, também, pela busca da democratização do ensino, não desvinculando-se do “ser pedagogo”, só que com uma visão geral no que se refere ao especificamente pedagógico na escola.

Denota-se que muitas das teorias e práticas específicas da orientação educacional podem ser úteis, desde que tomadas as devidas precauções, como a importância do autoconceito do aluno, na qual as opiniões deles devem se constituir como fatores estimulantes no processo da aprendizagem; a relevância das atividades de orientação de estudos compreendendo as dificuldades individuais e relativizando o fator cultural. Nas palavras da autora é possível identificar que esse “papel do orientador” esteja conectado ao professor.

Adentra-se neste momento para a especificidade da contribuição do orientador educacional, neste ponto a autora retrata que muitos destes profissionais acabam por atuar somente na seara psicológica, envolvente somente ao aluno, deixando de intervir e atuar através de processos de fundamental importância como o currículo, à metodologia e a avaliação.

Não há dúvidas de que o fazer pedagógico se concretiza na escola, com isso a importância do acompanhamento em relação aos conteúdos e a forma que estão sendo desenvolvidos, aproximando os diferentes contextos e culturas da sala de aula, daí a relevância do trabalho concomitante de assessoria no processo ensino-aprendizagem do orientador com o professor – diminuindo espaços entre a fragmentação (sincrética) e o conhecimento elaborado (sintético), até para que a avaliação se torne uma ferramenta efetiva e consonante com o processo de aprendizagem (passagem do estágio de senso comum para a consciência crítica dos conteúdos).

Percebe-se que na pedagogia crítico-social a avaliação não pertence mais ao professor, ao aluno ou ao sistema, como ocorriam, respectivamente, na pedagogia tradicional, escolanovista e tecnicista. Utilizar-se-ão instrumentos aquém da escola, sempre articulados às situações concretas na qual se esta inserido, verificando em que medida a prática conjunta dos educadores da escola, está possibilitando a apreensão crítica dos conteúdos por parte dos alunos.

O último elemento, mas não menos relevante, trazido pelo texto, diz respeito a metodologia, que em suma se define como um movimento entre as teorias-práticas-teorias. Esses movimentos caracterizam-se como a forma de acontecer da aprendizagem, ou seja, se tomará conhecimento não só de fatores internos ao ensino como também as predisposições do aluno em termos socioculturais e psicológicos. Para que a metodologia se realize de forma eficaz são analisados diversos fatores que partem desde a escolha do livro didático até sua efetiva aquisição crítica pelos alunos, durante este processo ocorrem questões de acompanhamento como: o professor propicia debate? Como os professores veem os alunos? Como se caracterizam os alunos das diferentes séries quanto a motivação, interesse, participação, estudo, organização? Quais as atividades que favorecem a memória? entre outras.

Verifica-se que a orientação metodológica requer inúmeras habilidades, de modo que o orientador será contributivo ao utilizar as teorias como referenciais somatórios para a verificação do processo de aprendizagem pelo professor.

A título conclusivo tem-se duas dificuldades que precisam ser enfrentadas, conforme expressas pela autora, a primeira refere-se a formação do profissional pedagogo, que precisa ser repensada; a segunda seria a real definição daquilo que realmente é função da escola em seu âmbito social. Portanto, a partir do momento em que for assumida a reforma interna da escola, ter-se-á efetivamente um sistema a serviço da democratização do ensino.