A
autora inicia o texto retratando o alto índice de evasão que perdura nas
escolas públicas e lembra que somente os fatores externos não são
suficientemente convincentes para justificar o crescimento destes números.
Neste aspecto, destaca-se o questionamento da autora: “é possível ensinar aos
alunos que se evadem, e que, não por acaso, são advindos das camadas sociais
mais pobres?” Através desta indagação, que diz respeito a fatores e práticas
internas da escola, que precisam e devem ser mudados, surge o desafio de
ensinar superando estas barreiras.
Vale
acrescer e destacar os seguintes aspectos de modelo ideal da educação com o
entendimento de José Carlos Libâneo: “Não há uma forma única nem um único
modelo de educação; a escola não é o único lugar em que ela acontece e talvez
nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática, e o professor
profissional não é seu único praticante”. (LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e
pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010. p. 26.)
Nota-se
que o desafio a ser enfrentado pela escola é ainda maior. E para que este
objetivo seja atingido é abordada, por Pimenta, a atribuição do pedagogo,
destacando o período em que o fazer pedagógico fora subdividido em três
funções, quais sejam: a administração escolar, a supervisão pedagógica e a
orientação educacional. Na tentativa de solução para tantas problemáticas, a
autora analisa a prática do pedagogo, então denominado como orientador
educacional.
Na
luta pela emancipação das camadas menos favorecidas e pela diminuição no índice
de evasão escolar, destaca-se o papel relevante da escola como transmissora do
acesso ao saber. Pode-se perceber nas palavras de Dermeval Saviani duas
concepções de teorias educacionais: “Na primeira, temos aquelas teorias que
entendem ser a educação um instrumento de equalização social, portanto, de
superação da marginalidade. No segundo, estão as teorias que entendem ser a
educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de
marginalização”. (SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 41 ed. Campinas:
Autores Associados, 2009. p. 3.)
Neste
aspecto entra em questão a superação de condições de dominação trazidas pela
autora com brilhantismo, nas quais o confronto entre as partes aluno/professor,
criará novos saberes e novas interpretações de mundo.
A
escola tem importante papel na socialização de seus saberes, através desta
afirmação se desdobrará o texto em uma visão progressista da educação.
Para
que os papeis de orientador e pedagogo sejam apresentados são enumeradas as
funções de cada um. Primeiramente o papel do pedagogo: quanto à escola pública
o pedagogo seria aquela pessoa disposta a enfrentar os problemas da
democratização; busca de melhoria e oportunidades de acesso. Quanto à
especificidade da escola tratar das articulações entre o que se aprende com o
que lhe quer ensinar, tendo o domínio também de instrumentos e técnicas para
que este processo aconteça. Quanto à prática docente encaixa-se a pedagogia
crítico-social dos conteúdos e a importância do papel do professor no processo
cultural; busca de resolução de contradições e entraves que barrem as propostas
de serem efetivadas; articulação entre os diferentes modos de ensinar. Quanto
aos especialistas na escola e a prática docente tem-se o objetivo de manter a
especificidade da escola, evitando a resolução de conflitos/problemas através
da fragmentação do trabalho; prática da escola tida como coletiva,
implementação da interdisciplinaridade nas relações também; pedagogo na função
não só administrativa, como também relacionado ao ato de ensinar, manejando
instrumentos de articulação para que o processo se efetive.
Quanto
às funções do orientador educacional verifica-se a responsabilidade, também,
pela busca da democratização do ensino, não desvinculando-se do “ser pedagogo”,
só que com uma visão geral no que se refere ao especificamente pedagógico na
escola.
Denota-se
que muitas das teorias e práticas específicas da orientação educacional podem
ser úteis, desde que tomadas as devidas precauções, como a importância do
autoconceito do aluno, na qual as opiniões deles devem se constituir como
fatores estimulantes no processo da aprendizagem; a relevância das atividades
de orientação de estudos compreendendo as dificuldades individuais e relativizando
o fator cultural. Nas palavras da autora é possível identificar que esse “papel
do orientador” esteja conectado ao professor.
Adentra-se
neste momento para a especificidade da contribuição do orientador educacional,
neste ponto a autora retrata que muitos destes profissionais acabam por atuar
somente na seara psicológica, envolvente somente ao aluno, deixando de intervir
e atuar através de processos de fundamental importância como o currículo, à
metodologia e a avaliação.
Não
há dúvidas de que o fazer pedagógico se concretiza na escola, com isso a
importância do acompanhamento em relação aos conteúdos e a forma que estão
sendo desenvolvidos, aproximando os diferentes contextos e culturas da sala de
aula, daí a relevância do trabalho concomitante de assessoria no processo
ensino-aprendizagem do orientador com o professor – diminuindo espaços entre a
fragmentação (sincrética) e o conhecimento elaborado (sintético), até para que
a avaliação se torne uma ferramenta efetiva e consonante com o processo de aprendizagem
(passagem do estágio de senso comum para a consciência crítica dos conteúdos).
Percebe-se
que na pedagogia crítico-social a avaliação não pertence mais ao professor, ao
aluno ou ao sistema, como ocorriam, respectivamente, na pedagogia tradicional,
escolanovista e tecnicista. Utilizar-se-ão instrumentos aquém da escola, sempre
articulados às situações concretas na qual se esta inserido, verificando em que
medida a prática conjunta dos educadores da escola, está possibilitando a
apreensão crítica dos conteúdos por parte dos alunos.
O
último elemento, mas não menos relevante, trazido pelo texto, diz respeito a
metodologia, que em suma se define como um movimento entre as
teorias-práticas-teorias. Esses movimentos caracterizam-se como a forma de
acontecer da aprendizagem, ou seja, se tomará conhecimento não só de fatores
internos ao ensino como também as predisposições do aluno em termos
socioculturais e psicológicos. Para que a metodologia se realize de forma
eficaz são analisados diversos fatores que partem desde a escolha do livro
didático até sua efetiva aquisição crítica pelos alunos, durante este processo
ocorrem questões de acompanhamento como: o professor propicia debate? Como os
professores veem os alunos? Como se caracterizam os alunos das diferentes
séries quanto a motivação, interesse, participação, estudo, organização? Quais
as atividades que favorecem a memória? entre outras.
Verifica-se
que a orientação metodológica requer inúmeras habilidades, de modo que o
orientador será contributivo ao utilizar as teorias como referenciais
somatórios para a verificação do processo de aprendizagem pelo professor.
A
título conclusivo tem-se duas dificuldades que precisam ser enfrentadas,
conforme expressas pela autora, a primeira refere-se a formação do profissional
pedagogo, que precisa ser repensada; a segunda seria a real definição daquilo
que realmente é função da escola em seu âmbito social. Portanto, a partir do
momento em que for assumida a reforma interna da escola, ter-se-á efetivamente
um sistema a serviço da democratização do ensino.