domingo, 17 de agosto de 2014

Pedagogia da Educação Infantil - Novas proposições e análises sobre o texto Educar e Cuidar de Ana Beatriz Cerisara



              Denota-se após a leitura do texto Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil?, com autoria de Ana Beatriz Cerisara, que as instituições de educação infantil tinham uma “falsa dicotomia”, por apresentarem um caráter tanto assistencial, quanto escolarizante.
              Conforme palavras da autora verifica-se que:

[...] de um lado, uma importação do modelo hospitalar/familiar e, de outro, uma importação do modelo da escola de ensino fundamental. Nesta dicotomização, as atividades ligadas ao corpo, à higiene, alimentação, sono das crianças eram desvalorizadas e diferenciadas das atividades consideradas pedagógicas, estas sim entendidas como sérias e merecedoras de atenção e valor[1].

              Ao analisar-se o processo educar/cuidar, a autora traça o histórico tanto legal, quanto contextual da figura feminina carregado pelo estereótipo da simbologia do “cuidar” que estende-se até a contemporaneidade, principalmente da figura da mulher como mãe.
              Com o advento da Carta Magna, em 1988, muitos aspectos tangenciados para a criança se alteram, e um de destaque é o da função da creche, que então não visa atender às necessidades da mãe (um local para deixar seu filho e ir trabalhar), mas sim a criança, como sendo um lugar de direito para a criança como sujeito da sociedade, assumindo com isso um nível de ensino institucionalizado como Educação Infantil.
              Percebe-se então que educar e cuidar representam uma interdisciplinaridade que deve ser realizada através de uma atitude humanizada, que respeite a instituição escola e suas diferentes funções e atores.
              Ao tratar da inclusão de creches e pré-escolas no ensino básico, Ana Beatriz Cerisara ressalta que estas instituições não se tornem:

Depósitos de crianças, substitutas maternos ou hospitais, também há clareza de que [...] não devem reproduzir as práticas sociais que têm sido desenvolvidas nas escolas de ensino fundamental [...] este é o quadro atual que se coloca hoje [...] a construção de uma Pedagogia da Educação Infantil que rompa com a Pedagogia Escolar tal como tem sido desenvolvida nas escolas de ensino fundamental[2].

              Dentre os desafios colocados, pela autora do texto, para que se realize essa Pedagogia da Educação Infantil, elabore-se uma questão de fundamental importância para a discussão, primeiro aspecto se a educação básica divide-se em três níveis de ensino: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, segundo se o termo educação, conforme acordado pela autora, designa muito mais que o termo ensino: “mais do que o nível de ensino, estas instituições devem realizar um trabalho contemplando e priorizando os processos educativos que envolvem as crianças como sujeitos da e na cultura”[3], por que então, não utilizar o termo educação para as outras 2 etapas de ensino? Assumindo com isso, nossa educação básica, um papel com maior intencionalidade e sistematização? Além de possibilitar à Educação Infantil de apropriar-se de práticas dessas outras 2 modalidades, unificando um sistema que possibilite de toda forma, proporcionar o aprendizado respeitando as especificidades que demandam da educação de crianças menores de 7 anos.
              A título conclusivo, mas de certa forma infindável para discussões, releva um questionamento a respeito da importância de uma política pública que carregue consigo a ideia do “educar e cuidar” não só para a escola como também para os alunos. É certo que definições de papeis e funções influem diretamente nas atitudes e ações dentro de uma instituição escolar, com isso coloca-se aqui a relevância que deve ser dada ao aluno como agente propositor e contribuinte dessas funções, ao verificar sua efetiva aplicabilidade e resultados.
              Ressalte-se este aspecto colaborativo da efetividade de políticas públicas, parafraseando trecho de ilustre autor da área da educação Dermeval Saviani, que através da pedagogia histórico-crítica releva que as políticas públicas precisam demonstrar um grau de continuidade, respeitando o aluno como sujeito, e não simplesmente agir e implementar metas, definir conceitos, estipular objetivos, para que estes se rompam em um próximo governo, ou seja, fazer da educação um alavanque político. O pensar em políticas deve caracterizar uma continuidade, inclusive avaliativa para verificação de sua efetividade[4].
              Desta forma, através de políticas efetivas e do respeito tanto do profissional quanto da criança, no tangente aos seus direitos fundamentais, podem simbolizar um caminho para a Pedagogia da Educação Infantil.




[1] CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? v. 17, n. Especial, 21, jul./dez. 1999. Florianópolis: Perspectiva. p. 13.
[2] CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? v. 17, n. Especial, 21, jul./dez. 1999. Florianópolis: Perspectiva. p. 15.
[3] Ibid. p. 15-16.
[4] SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica. 11. ed. São Paulo: Autores Associados, 2011. p. 109.