Denota-se após a leitura do texto Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil?, com autoria de Ana Beatriz Cerisara, que as instituições de educação infantil tinham uma “falsa dicotomia”, por apresentarem um caráter tanto assistencial, quanto escolarizante.
Conforme
palavras da autora verifica-se que:
[...] de um lado, uma
importação do modelo hospitalar/familiar e, de outro, uma importação do modelo
da escola de ensino fundamental. Nesta dicotomização, as atividades ligadas ao
corpo, à higiene, alimentação, sono das crianças eram desvalorizadas e diferenciadas
das atividades consideradas pedagógicas, estas sim entendidas como sérias e
merecedoras de atenção e valor[1].
Ao
analisar-se o processo educar/cuidar, a autora traça o histórico tanto legal,
quanto contextual da figura feminina carregado pelo estereótipo da simbologia
do “cuidar” que estende-se até a contemporaneidade, principalmente da figura da
mulher como mãe.
Com
o advento da Carta Magna, em 1988, muitos aspectos tangenciados para a criança
se alteram, e um de destaque é o da função da creche, que então não visa
atender às necessidades da mãe (um local para deixar seu filho e ir trabalhar),
mas sim a criança, como sendo um lugar de direito para a criança como sujeito
da sociedade, assumindo com isso um nível de ensino institucionalizado como
Educação Infantil.
Percebe-se
então que educar e cuidar representam uma interdisciplinaridade que deve ser
realizada através de uma atitude humanizada, que respeite a instituição escola
e suas diferentes funções e atores.
Ao
tratar da inclusão de creches e pré-escolas no ensino básico, Ana Beatriz
Cerisara ressalta que estas instituições não se
tornem:
Depósitos de crianças,
substitutas maternos ou hospitais, também há clareza de que [...] não devem
reproduzir as práticas sociais que têm sido desenvolvidas nas escolas de ensino
fundamental [...] este é o quadro atual que se coloca hoje [...] a construção
de uma Pedagogia da Educação Infantil que rompa com a Pedagogia Escolar tal
como tem sido desenvolvida nas escolas de ensino fundamental[2].
Dentre
os desafios colocados, pela autora do texto, para que se realize essa Pedagogia
da Educação Infantil, elabore-se uma questão de fundamental importância para a
discussão, primeiro aspecto se a educação básica divide-se em três níveis de
ensino: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, segundo se o termo educação, conforme acordado pela
autora, designa muito mais que o termo ensino: “mais do que o nível de ensino,
estas instituições devem realizar um trabalho contemplando e priorizando os
processos educativos que envolvem as crianças como sujeitos da e na cultura”[3],
por que então, não utilizar o termo educação para as outras 2 etapas de ensino?
Assumindo com isso, nossa educação básica, um papel com maior intencionalidade
e sistematização? Além de possibilitar à Educação Infantil de apropriar-se de
práticas dessas outras 2 modalidades, unificando um sistema que possibilite de
toda forma, proporcionar o aprendizado respeitando as especificidades que
demandam da educação de crianças menores de 7 anos.
A
título conclusivo, mas de certa forma infindável para discussões, releva um questionamento
a respeito da importância de uma política pública que carregue consigo a ideia
do “educar e cuidar” não só para a escola como também para os alunos. É certo
que definições de papeis e funções influem diretamente nas atitudes e ações
dentro de uma instituição escolar, com isso coloca-se aqui a relevância que
deve ser dada ao aluno como agente propositor e contribuinte dessas funções, ao
verificar sua efetiva aplicabilidade e resultados.
Ressalte-se
este aspecto colaborativo da efetividade de políticas públicas, parafraseando
trecho de ilustre autor da área da educação Dermeval Saviani, que através da
pedagogia histórico-crítica releva que as políticas públicas precisam demonstrar
um grau de continuidade, respeitando o aluno como sujeito, e não simplesmente
agir e implementar metas, definir conceitos, estipular objetivos, para que
estes se rompam em um próximo governo, ou seja, fazer da educação um alavanque
político. O pensar em políticas deve caracterizar uma continuidade, inclusive
avaliativa para verificação de sua efetividade[4].
Desta
forma, através de políticas efetivas e do respeito tanto do profissional quanto
da criança, no tangente aos seus direitos fundamentais, podem simbolizar um
caminho para a Pedagogia da Educação Infantil.
[1]
CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por
onde anda a educação infantil? v. 17, n. Especial, 21, jul./dez. 1999.
Florianópolis: Perspectiva. p. 13.
[2]
CERISARA, Ana Beatriz. Educar e cuidar: por
onde anda a educação infantil? v. 17, n. Especial, 21, jul./dez. 1999.
Florianópolis: Perspectiva. p. 15.
[3]
Ibid. p. 15-16.
[4]
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia
histórico-crítica. 11. ed. São Paulo: Autores Associados, 2011. p. 109.
Nenhum comentário:
Postar um comentário