
Os trechos da
carta-resposta a seguir são de um cacique indígena à sugestão, feita pelo
Governo do Estado da Virgínia (EUA), de que uma tribo de índios enviasse alguns
jovens para estudar nas escolas dos brancos.
"(...) Nós estamos convencidos, portanto, de que os
senhores desejam o nosso bem e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que
são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das
coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa
idéia de educação não é a mesma que a nossa. (...) Muitos dos nossos bravos
guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa
ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eram maus corredores, ignorantes
da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam caçar o
veado, matar o inimigo ou construir uma cabana e falavam nossa língua muito
mal. Eles eram, portanto, inúteis. (...) Ficamos extremamente agradecidos pela
vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão
concordamos que os nobres senhores de Virgínia nos enviem alguns de seus
jovens, que lhes ensinaremos tudo que sabemos e faremos deles homens." (BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo:
Brasiliense, 1984)
Podemos analisar essa carta
sob quatro aspectos, o primeiro seria
a intensa relação da linguagem e escrita do cacique, sendo ele esclarecedor de que
esses tipos de educação não combinam com sua cultura; o segundo deixa claro que cada cultura “educa” de acordo com suas
necessidades; já no terceiro nota-se
a importância de se preservar uma identidade cultural e, por último uma reflexão: a sociedade evolui
e juntamente com ela o povo, com isso pode-se pensar a respeito da cultura
indígena e de alguns de seus costumes que já não fazem sentido de serem mantidos,
como equiparação “grotesca”, mas muito clara, compare-se uma cultura
ultrapassada com o aborto, se uma criança nascesse, no século XVI com síndrome
de down ela seria morta, mas se a
mesma criança nascesse no século XXI ela teria o direito a vida, isso, de certa
forma, caracteriza a evolução de uma cultura e aquilo que nela agregamos ou
deixamos de lado.
Trata-se de uma visão
perigosa e até mesmo provocativa mas, acredito que educação sempre é bem-vinda,
seja ela para a caça ou para a escrita, com isso, obtemos outro aspecto de
análise, onde se cogita o sentido de manter determinadas atitudes, se o tempo
evolui e com ele o homem, caso isso não ocorra teremos a sensação de
estagnação, ou até mesmo de um “recuar cultural”. Não falo em descaracterizar
uma identidade cultural, mas sim, em evoluir culturalmente –
democratizando, por exemplo, o direito de um integrante da tribo poder escrever
e ler a carta escrita somente pelo cacique. Atenho-me, como base de sustentação
para esse argumento, à nossa Constituição Federal que no Decreto 6.861/09 –
art. 3º nos apresenta como direito dos índios:
Será
reconhecida às escolas indígenas a condição de escolas com normas próprias e
diretrizes curriculares específicas, voltadas ao ensino intercultural e
bilíngue ou multilíngue, gozando de prerrogativas especiais para organização
das atividades escolares, respeitado o fluxo das atividades econômicas,
sociais, culturais e religiosas e as especificidades de cada comunidade,
independentemente do ano civil.
Todos os cidadãos possuem os
mesmos direitos, com base nessa afirmação, vale ressaltar a concepção de
educação por Marx onde ela é a responsável por combater a alienação e a
desumanização de um povo, por que negar esse direito ao índio? Ou melhor, para
alguns índios? Afinal, a priori, torna-se
notório o etnocentrismo vinculado ao texto do cacique, marcando nitidamente os
valores de suas crenças e inferiorizando as demais, quando denota em um de seus
dizeres que somente em sua cultura formar-se-ão verdadeiros homens.
“Quanto mais miserável o povo, mais rico
é o político!”
(Texto de
autoria de Emanuelle Milek, 2012 - Todos os direitos reservados - proibida a
cópia integral ou parcial).
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